Mesmo sabendo que conselho bom não se dá, vou ignorar a sabedoria popular, abrir o meu consultório e alertar às moças e rapazes casadoiros: receita de sogra não se repete. Se você for bobo para fazer, não pergunte ao companheiro se ficou bom e não tente competir com uma memória de infância.
Conto isso porque um dos sabores mais preciosos guardado pelo marido é o sagú de leite. Para quem não sabe, sagú são bolinhas de tapioca (farinha de mandioca) que são cozidas até formar um creme espesso. É muitíssimo popular na região em que moramos e quase sempre é cozido numa calda de vinho tinto, suco de uva ou suco de laranja (este último, mais raramente).
Qual não foi minha surpresa quando fui apresentada ao sagú de leite. Fiquei pasma, mais ainda quando percebi a surpresa do marido com o meu desconhecimento: como assim? Nunca comeste sagú de leite? Minha reação foi franzir a testa, olhar no fundo do olho e perguntar: amoôor, tens certeza de que isso existe mesmo?
Sim, claro que existe, vim a descobrir. É uma das especialidades da minha sogra e foi acrescida ao cardápio da família pelas mãos do
Álcio, que, sem paciência de esperar a iniciativa materna e desiludido com minhas negativas em fazer a iguaria, começou a prepará-la e se saiu muito bem na brincadeira.

A receita pede uma xícara de sagú que deve ser deixado de molho em água por cerca de uma hora. Depois desse período, escorra-o e transfira-o para uma panela grande com duas xícaras de leite semidesnatado e uma colher de sobremesa de cravos da índia.
Quando começar a ferver, acrescente cerca de meia xícara de açúcar. Coloque devagar e vá experimentando até acertar o sabor. Deixe cozinhar na fervura em fogo baixo até as bolinhas ficarem macias. Fique de olho, mexendo sempre para o açúcar não queimar demais no fundo da panela (um pouquinho fica ótimo - acreditem) e para que as bolinhas não desmanchem. Se engrossar demais, acrescente um pouco mais de leite.
Sirva morno com canela em pó.