segunda-feira, 28 de abril de 2008

Quem não planta para comer?

Sempre gostei de plantas. Tanto quanto gostei de passear num jardim. Numa sala de apartamento, elas sempre se compararam a um objeto decorativo. As frases "que bela samambaia!" ou "que lindo abajur!" teriam praticamente o mesmo valor simbólico no meu dicionário de frases que na verdade não significam nada. Isso não quer dizer que eu aprove flores de plástico, estamos entendidos?

Fui aprendendo a me relacionar com as verdosas quando me vi responsável por um antúrio que está há três gerações na minha família. Pertenceu à minha vó, foi da minha mãe e hoje está solene na área de serviço da minha casa.

Quando criança, usei suas flores vermelhas para fazer sopa de bruxa num caldeirão estrategicamente colocado no pátio de casa. Agora aprendi o que ele gosta. Fizemos as pazes e, por tentativa e erro, descobri como ele deve ser adubado, aguado e qual a claridade ideal para mantê-lo feliz. Como resultado, ele continua ali, florescendo absolutamente protegido de outras bruxinhas.

Depois de entender porque é interessante se relacionar com plantas, fui gradualmente recebendo a companhia de várias outras folhagens aqui em casa. Recentemente, me aventurei numa proposta ainda mais ousada: resolvi plantar manjericão.



Para você entender: adoro molho ao pesto. Adoro molho ao sugo com manjericão, adoro esta erva com espaguete, nhoque, frango, assados e com pizza, é claro. Mas ela precisa estar fresquinha... e cá entre nós, ela dura tão pouco na geladeira.

Comer e cozinhar foi motivação suficiente para iniciar o cultivo da folha. Para começar é fácil: basta colocar uma muda num copo com água e esperar alguns dias até enraizar. Pronto, passe para um vaso com terra e espere ela crescer.

Embora o manjericão seja uma plantinha que é pura generosidade, levei um bocado de tempo até ter coragem de colher os seus primeiros galhos (ficamos amigas, entende?). Hoje, peço "com licença" e corto. Mas a verdade, é que sempre uso menos folhinhas do que eu deveria...mas pelo menos estão todas frescas.

Se você quer iniciar uma plantação também, sugiro enfaticamente que você não nomeie as suas plantas. Depois disso, fica difícil comê-las.

domingo, 27 de abril de 2008

Thom Kha Gai

O Frederico é um grande parceiro para aventuras gastronômicas. Sem medo de experimentar até mesmo as propostas mais ousadas, ele curte comer bem e sabe preparar algumas especialidades como poucos -cookies divinos para você imaginar...

Essa semana nós dois assistimos uma aula de culinária Thai com o chef Bryan Parsley. Lembra um pouco a comida baiana. É uma cozinha cheia de contrastes e delícias perfumadas: gengibre, limão e pimenta. Doces delicados e visual impecável.
Nosso prato preferido foi a entrada, uma sopa de frango com gengibre que você pode conferir aqui embaixo:



Para fazê-la, fervemos no caldo de frango uma porção de gengibre, um talo de cidró e 5 ou 6 folhas de limão. Quando o perfume estiver exalando, acrescente o frango em pedaços pequenos, uma porção de caldo de peixe (você só encontra importado em delicatesses) , uma garrafa de leite de coco e cogumelos shimeji - este já no finalzinho. Depois de cozido o frango, desligue o fogo e acrescente uma porção (1 dedinho) de suco de limão. Não vai sal porque o caldo de peixe já é bastante salgado.

Coloque num pratinho e sirva com folhas de coentro picada.
Outro dia, vou passar a receita da sobremesa que aprendemos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Prá benne mangiare!

Acho que a beringela é a versão natureba da batata. Nem sempre muito bem compreendida, ela é minha mais nova alegria na cozinha. Explico: até pouco tempo não podia prepará-la, devido a uma fobia inexplicável do Álcio pela simpática leguminosa.

Por anos, tentei argumentar que as suas péssimas experiências anteriores seriam completamente esquecidas e superadas, depois que ele comesse uma versão adequadamente preparada. Há pouco tempo, com o dilema superado, pude iniciá-lo cuidadosamente neste mundo das pessoas que comem beringela.

Cá entre nós, ela fica tão bem cozida, frita e assada. Ao contrário da batata, pode virar um patê maravilhoso. É gostosa na salada, na pizza e no pãozinho. É linda, tão única que falamos "cor de beringela": quero um sofá beringela...

E, além de tudo, é totalmente despretenciosa. Olha só, combina como uma luva com esse talharim número dois comprado no mercadinho:



Prá fazer, você corta em tiras uma beringela média e um pimentão (ou mais se quiseres misturar o vermelho, verde e amarelo) . Pique uma cebola em rodelas finas e misture tudo numa assadeira, temperadinho com sal, pimenta do reino, e regado com muito, mas muito azeite de oliva.

Asse no forno por cerca de 30 minutos, mexendo de vez em quando até reduzir a 1/3 do volume inicial. Precisa ficar tostadinho. Se secar demais, coloque mais um pouco de azeite durante o processo.

Misture com a massa de sua preferência e vá mangiare!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Eta mineirinho bom!



Quando perguntei aqui em casa se queriam pastel doce eu ouvi alguns muxoxos desconexos, seguidos por outros "pode ser" sem nenhuma fé na delícia que viria.

Ignorando completamente o apetite do meu eleitorado, fui para a cozinha e preparei uma micro porção deste fantástico pastelzinho juntando os dois ingredientes mais tudo-de-bom da cozinha nacional.

Sim sinhô uai, é exatamente o que você está imaginando: abra a massinha de pastel de sua preferência, coloque uma pequena porção de queijo mussarela, (ele derrete melhor) e uma generosa colherada de doce de leite. Enrole e dobre as pontas como um pacotinho, pressionando com cuidado para não rasgar a massa.

Frite em óleo bem quente e finalize com açúcar de confeiteiro peneirado.

Garanto que ele é tão bom quanto parece ser.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Eu gosto arrumadinho...

Você, meu caro amigo que está acompanhando este blog, já deve ter se perguntado: será que a Ziza só tem aquela toalha vermelha?

Eu respondo: naturalmente adoráveis leitores, eu tenho mais de uma toalha de mesa.


quarta-feira, 16 de abril de 2008

É de batata doce, não é doce de batata

Sabe aquela brincadeirinha em que te perguntam quais três coisas você levaria a uma ilha deserta? Pois é, nunca fiz essa lista. Sempre botei a língua para quem ousou me perguntar esta bobagem: qual a utilidade disto? Vou ponderar isto para quê?, respondo.

Por outro lado, para o desespero dos nutricionistas e nutrólogos, sempre me pareceu muito sensato fazer a lista do único (vejam bem, único) ingrediente que eu poderia comer pelo resto da minha vida. Há anos minha resposta permanece exatamente a mesma: batata.

Com batata eu posso fazer suflê, nhoque, bolinho, frita, suíça, pão e até pura com azeite. Ih, as opções são infindáveis.

Naturalmente que na dimensão onde eu só posso comer pratos derivados deste valoroso tubérculo, eu também tenho acesso aos demais ingredientes necessários à sua preparação, entende?
Além de tudo, como essa dimensão é minha e hoje estou generosa, eu também posso usar batata doce e fazer esta deliciosa torta salgada que o Fre adora. Esta aqui é em versão natalina:





Sabe como faz? Você prepara fazendo um purê de quatro batatas doces (grandalhonas, por favor). Em separado, frite no azeite de oliva um pouquinho de alho e um generoso punhado de pimenta vermelha picadinha (tire as sementes para não arder). Se quiseres uma versão carnívora, coloque também na frigideira uma lingüicinha picada ou pedacinhos pequenos de bacon. Misture à massa colocando ainda três ovos, fermento de bolo e sal, é claro. Despeje tudo numa forma muito, mas muito bem untada e enfarinhada. Asse no forno até o palito sair seco, saca?

Se grudar, não se assuste, bote por cima fatias de um presunto de boa qualidade (parma ou outro no mesmo padrão) que as pessoas vão pensar que você planejou colocá-los ali desde o princípio. Olha só que bonitinho:



Vou repetir: ninguém vai acreditar nessa história se você colocar presunto comum.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Fuja da cozinha

Dizem que uma experiência gastronômica só é completa se, além de estimular as papilas gustativas, ela estimular também a visão: não basta ser delicioso, tem que ser lindo (e cheiroso também, completo).

Algumas receitas conseguem ser deliciosas, mas, cá entre nós, feiosas. Um risoto fantástico pode ter a cara de uma regurgitação infantil (ou baby vomit, como xingaria o Gordon Ramsay). Algumas pessoas dirão que é porque o risoto não foi bem feito. Mas eu insisto: reflita, pense bem, lembre-se daquele domingo em que o sobrinho da sua prima vomitou naquele seu sapato novinho. Tudo está ali: o arroz, as iscas, o molho escuro. Putz, é o risoto de filé com gengibre que comemos noutro dia fazendo hummm (passo essa receita quando eu tiver certeza de você já se esqueceu deste post).

Escatologias à parte, o arroz com legumes é o inverso de tudo que falei no parágrafo anterior: sem graça, sem personalidade, sem atrativo nenhum, enfim. Em compensação é tão fotogênico. Mas se você não souber como fazê-lo, deixe assim. Não mexa em time que está ganhando.





Olhe a foto acima mais uma vez e pense que você não está perdendo nada.

Um tratado sobre o bolo

Posso dizer com segurança que enquanto minha mãe foi viva, nunca comi um bolo fora de casa. Bem, da casa dela, pelo menos. Cresci e vivi boa parte da minha vida cercada por duas boleiras fantásticas: minha mãe e minha irmã. Fazer um bolo à altura daqueles, me parecia tarefa impossível. Comê-los de outra fonte, um desperdício de calorias... Fui fazer minha primeira tentativa depois dos trinta anos e, pasmem, ficou ótimo. Descobri que tinha herdado um pedacinho daquele talento todo. Bem, eu podia ser uma mulher bom bril há muito tempo, mas confesso que só me senti uma matrona completa depois de fazer um bolo perfeito.
Esse é um mesclado que fez sucesso com os amigos do Fre:


Gosto de fazer bolo com manteiga. Sou obrigada a dizer que não sei diferenciá-lo de um bolo feito com óleo, mas eu me sinto mais entendida fazendo assim. O bolo é meu, então eu faço.
Mais recentemente decobri com a Nigella que, ao invés de leite, eu poderia colocar creme de leite na massa. Fiz e, dessa vez, a diferença no resultado foi óbvia: urrei, achei que tinha feito a melhor descoberta desde o purê de batatas. Comi, repeti, obriguei a família a comer, a repetir, a elogiar, a elogiar de novo. Segunda, no trabalho, contei minha façanha para os colegas que (ofensa mortal!), acharam minha mais perfeita iguaria muito gorda! Tentei argumentar dizendo que não existe meio pecado. Se for fazer, faça bem feito. Mas meu poder de persuasão não é dos melhores e não convenci ninguém... Esse aqui é de cenoura, ainda no forno:


Em casa, rezamos pelo manual do pecado inteirinho. Por isso, além de tudo, colocamos uma cobertura de chocolate que o Álcio faz. O segredo da cobertura é misturar a mesma quantidade de leite e leite condensado. Não use Nescau, mas chocolate em pó, coloque uma colherada de manteiga, puxe um banquinho para perto do fogão e tenha muita paciência. Você vai mexer a cobertura por um tempo que parecerá descomunal, ela vai ferver devagarinho em fogo brando e vai exalar um perfume de chocolate por toda a cozinha. Haverá um momento em que você vai querer desistir e colocar o fogo na chama alta: resista, o universo vai recompensá-lo mais tarde com a cobertura mais lisinha, cremosa e deliciosa. Para inspirar, registro do glorioso momento em que a estamos aplicando:


domingo, 13 de abril de 2008

É rapidinho na cozinha

Ainda no esquema da mais pura enganação, um arroz que faz bonito no jantar com a sogra: cozinhe seu arrozinho branco como de costume, separe. Numa frigireira grande, aqueça um pouco de azeite de oliva e despeje castanhas grosseiramente marteladas (sim, você entendeu, enrole as castanhas num pano de prato bem limpinho e martele, mas martele com vontade) . Quando começar a dourar, coloque muitas folhas de manjericão. Deixe as folhas desidratarem um pouquinho - elas ficam levemente crocantes.
Depois, é só espalhar por cima do arroz. Fica bem bonitinho e é ótimo para acompanhar assados, confere aí:


Ahn, já ia me esquecendo. Substitua também o arroz por nhoque... te juro que é bom demais.

sábado, 12 de abril de 2008

É para picar, misturar e beber

Prá servir com o patezinho aqui de baixo, uma opção bonita e barata é essa bebidinha aqui. Não é clericot, está mais para um ponche, mas também não é bem isso. O certo é que é uma delícia.

Você vai precisar de uma garrafinha de suco concentrado de maracujá, frutas bem coloridas e firmes (não me venha com mamão e banana, por favor). Nesse, coloquei carambola (cortadas em estrelinhas, é claro), amoras e cerejas frescas - pode ser morango e uva, maçã, abacaxi e chega. Já tem demais.
Misture um litro de guaraná, um litro de chá preto bem forte e uma garrafa de espumante demi - não vai comprar uma garrafa de 40 pilas para isso, pode colocar bem tranquilito uma conde defecô, tá bom? fica ótimo e ela existe só para isso (ou deveria).
Se tiveres pimpolhos na casa, separe um pouco para eles antes de colocar o espumante.
Olha só, que beleza:

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Fui para a cozinha sem cozinhar

Começo meu blog de culinária com uma receitinha de não-culinária... mas gastronomia da melhor qualidade e muito fácil.

Este patezinho provençal aqui de baixo, dá para fazer misturando um patê de fígado de boa qualidade com três ou quatro colheres de nata (se você não for do Sul, use creme de leite sem soro, mas duas ou três colheres, tá?) , misture ainda manjericão, sálvia e orégano (este último bem pouquinho, em excesso ele deixa tudo com gosto de pizza). Finalize com umas nozes picadas e voilá...

Sucesso garantido - vale até dizer que ficou horas fazendo no dia anterior. Ótimo para servir de entrada e afastar os malas que grudam em cima do teu ombro enquanto tu terminas aquele assado de quatro horas: já tá pronto? Tô com fome...
De noite, pode até sozinho com um pãozinho e uma bebidinha... que tal?