terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Macarrão de depois de amanhã

Quem nunca fez um macarrão para aproveitar as sobras da festa que atire a primeira colher de pau!

Esta aqui é típica massinha de ressaca de Natal. Nós a comemos com algumas folhas verdes, tomates e Coca-cola. Nada melhor para agradar ao humor e fazer um carinho na barriguinha, tão sobrecarregada com as exigências digestivas da semana.

Sem guardar nenhum gosto da festa, eu a preparei com as sobras do pernil de porco. Foi preciso picar uma cebola em quadrados pequenos, temperá-la com uma colher de chá de páprica, um pouco de sal e uma pimenta vemelha sem semente bem cortadinha. Assim que tostou um pouco, acrescentei três ou quatro dentes de alho (já não lembro mais) cortados sem nenhuma cerimônia.


Sem esperar que dourasse muito, coloquei a carne (cerca de duas xícaras) picada em quadrados pequenos e a deixei fritar por uns dois minutos. Acrescentei, então, um tomate sem pele e sem sementes em pedaços e deixei-o desmanchar um tantão. Despejei uma lata de molho de tomate (vixe, não quer usar da latinha? - bom trabalho então) adicionei uma colher de chá de açúcar para regular a acidez, duas colheres de sopa de folhas de manjericão, dei uma acertada no sal e voilá, despejei tudo sobre o já conhecidíssimo talharim número 2 que estava esperando.

domingo, 28 de dezembro de 2008

(Hohoho) Milagre de Natal

Passei anos e anos achando o Natal uma chatice... só comecei a gostar depois que ele deixou de ser uma trabalhosa obrigação e se tornou uma desculpa para ficar horas na cozinha pensando o cardápio, preparando os assados e encomendando -ops- os doces (ninguém é de ferro, né?).


Confesso que depois das primeiras horas de trabalho, especialmente com o forno ligado, picando e cortando numa cozinha que beira os 54ºC, sempre penso que o cardápio tradicional não se ajusta ao Natal tupiniquim. Muito calor, minha gente, muito calor para tanto tempo de forno.

Já fiz ajustes na ceia de ano-novo. Há dois ou três anos abandonamos a carne de porco por frutos do mar. Escolho pela cor e pelo andar: preciso de salmão porque é cor-de-rosa e nada para frente. Seguindo esta mesma lógica, não comemos caranguejo (anda para trás, ou para o lado - como preferires) e carne de aves. Frutas, gosto das amarelas para trazer dinheiro e vermelhas para trazer amor.

Mas bem, estava falando do Natal: acho que a ceia tradicional não se adapta ao clima tropical - ou mesmo ao subtropical, como é o meu caso. Achei que era hora de levantar esta bandeira, mas como toda a grande mudança é um processo, o meu começou devagarinho e pela primeira vez o meu cardápio não contou com farofa. O peru foi recheado com creme de batata doce e linguiça e farofa foi corajosamente abandonada depois de 35 anos, sem falhas.

Achei que planejamento poderia ajudar, então comecei a brincadeira no dia 22: com o menu decidido, fui ao supermercado empunhando uma lista de compras e a expectativa de ficar horas disputando o peru com ferozes donas-de-casa. Qual não foi minha surpresa quando percebi que toda a cidade tinha ido para a praia e o lugar era meu. Só meu. Hahaha, achei que era um sinal de que estava no caminho certo.

Depois de descongelarem por um dia inteiro, no dia 23 assei o peru já recheado e o pernil desossado, que fiz com alecrim e cachaça de gengibre acompanhado por castanhas portuguesas. Cerca de seis horas depois, arrumei a mesa e me organizei para preparar os acompanhamentos no dia seguinte: arroz de jasmim com cogumelos picantes, mix de folhas verdes, muzzarela de búfala com cerejas frescas (parece melhor do que ficou), ponche e entradinhas de queijo.

No dia seguinte, com a mão no quadril, os hormônios fervilhando e boa parte da ceia de Natal para preparar, pedi aos guris para darem uma ajeitadinha na casa, o que eles fizeram com boa-vontade e, claro, um pouco de medo - já que não nasceram ontem.


O resultado da trabalheira foi tão bom que me fez acreditar no milagre de Natal: planejamento, cooperação e ventiladores na cozinha.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Moranguinhos na panela

Se você mora aqui pelo Sul e ainda não comprou a cota que lhe cabe, corra para aproveitar. Sim estou falando dos morangos: estamos no finalzinho da melhor safra dos últimos anos. Se você os quer doces e saborosos, afaste-se das opções de supermercado. Compre os orgânicos na sua feirinha, no mercado, quem sabe até no armazém da esquina: são menores, mais doces e prometem não conter agrotóxicos. Ainda assim, só para garantir, os deixo de molho numa bacia por uns 30 minutos, trocando a água de vez em quando.

Gosto de comê-los puros e o Fre adora com leite condensado. Mas se você quiser comprar uma caixa de 1kg, pode usar o excedente para preparar uma geléia como esta aqui. Fácil e rápida de fazer, combina com sorvete, biscoitinho, bolo e pãozinho. Se tiveres coragem, combina também com carnes. Além de tudo, fazer geléia impressiona. Embora seja mais fácil que fritar um ovo, parece até uma receita de quem sabe o que está fazendo na cozinha.



Limpe cerca de 200g de morangos sem os partir. Coloque numa panela pequena e cubra com água. Acrescente cerca de duas colheres de sopa de açúcar (ou mais, se gostares bem docinho) e uma dose de cachaça. Deixe ferver mexendo de vez em quando até engrossar e ficar em ponto de geléia. Está pronto!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O pãozinho e a celebridade

Praticamente todo o jornal ou revista brasileiro faz aquela entrevista-clichê, tipo pingue-pongue, em que a celebridade abobalhada responde onde gosta de passar as férias, a lição mais valiosa já aprendida na vida e outras asneiras lacrimosas do mesmo padrão.

As respostas são sempre as mesmas, mas como esperar outra coisa se as perguntas são sempre iguais? Uma perguntinha-fraca que recebe sempre a mesma respostinha-boba é o que você não resiste em consumir. Nunca vi ninguém dizer outra coisa que não fossem livros e CDs. É incrível, nada de carros-esporte e armas de fogo? - ou mesmo alguma coisa mais trivial, como pornografia americana, sapatos italianos e perfumes franceses?

Ah pára, seu celebridade, quem tu achas que está enganando? Já te ouvi falar e sei que para conquistar este vocabulário todo, jamais leste uma frase na vida. E CDs?, hum-hum, aposto que baixaste o da Ivete? Conta aqui no meu ouvidinho...

Celebridades à parte, preciso confessar que faço o tipinho pão-duro. Odeio experimentar roupas e sapatos e embora me perca numa livraria, resisto bravamente e saio com menos exemplares do que precisaria. Então, até pouco tempo, achei que era praticamente imune a desvarios irracionais de consumo. Mas observando meu comportamento, percebi que uma coisa, sim, uma coisa somente, acorda meu diabo tasmaniano, transformando-me numa compradora insaciável. Pasmem, são artigos de agroindústria familiar.

Acredita nisso? É verdade, posso dizer que também fiquei supresa quando me vi atônita com aquela peça de queijo na mão: Ziza, tens outro queijo em casa, vais comprar este para quê? - pensava com meus mal-pregados botões. Mas, entendam, eu estava passando em frente à feirinha de economia solidária e, sem me desviar do caminho para casa, já havia comprado dois pacotes de biscoito, um salame, um pão caseiro de aipim e uma cachaça de gengibre que eu também não precisava. O queijo colonial era a combinação perfeita para aquela brincadeira toda.


O queijo não está na foto, mas naquela noite, a janta foi de gringo, a satisfação foi garantida e eu fiquei feliz por não ter nenhuma quedinha por carros.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Costelão Domingueiro

Originalmente popular nas fazendas voltadas à criação de gado, há poucos anos começou a fazer bastante sucesso entre os asfalteiros citadinos, graças a alguns poucos e bons restaurantes que se esmeram em produzi-lo, e aos churrasqueiros de quintal, naturalmente.

O famoso costelão pode ser de porco ou gado. É assado praticamente inteiro na brasa por seis horas ou mais. Você já ouviu falar em história de pescador? Bem, esta receita já entrou no cancioneiro do assador e o tempo varia, podendo chegar a dez ou - pasmem, doze horitchas no calor fraquinho, fraquinho - conforme o tamanho do conto.

Seja como for, a técnica garante à melhor das carnes gordas um resultado absolutamente ímpar. A gordura derrete e confere um sabor fantástico à carne, que fica macia como você nunca viu igual.

Bem, eu conto tudo isso para dizer que não fiz esta costela, mas uma versão de forno bem inspirada e preguiçosa. Um bonito pedaço de 1,5 kg da carne de gado foi o suficiente para despertar o desejo. Temperada exclusivamente com sal grosso (para que mais?), ela foi envolvida como um presente em papel alumínio levemente untado com óleo e colocada no forno em temperatura baixa por cerca de 1h30.


Depois deste período, o papel alumínio foi retirado e a carne voltou ao forno para dourar, desta vez acompanhada por cebolas cortadas em metades e salpicadas com sal.
As vagens foram cozidas no vapor e lambuzadas no caldinho que sobrou do assado.

Acompanhe tudo pelo seu melhor apetite!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cogumelos picantes com alho-poró

Se tem uma coisa que posso dizer com segurança, é que nunca fui indiferente a uma bela porção de cogumelos. Na infância, imaginava que sua função seria apenas (como se fosse pouco) abrigar adoráveis duendes. Na região da serra, para onde eu viajava com certa frequência, era possível colhê-los e colecioná-los por algumas horas, geralmente até que minha mãe os visse e os jogasse no lixo, com assustadoras repreensões sobre as propriedades tóxicas do fungo.

Quando os champignons vieram para a nossa mesa (na época, era a única espécie disponível para consumo) levei algum tempo até me convencer de que o produtor realmente saberia diferenciar os tipos comestíveis dos demais. Minha corrida para catá-los e experimentá-los o mais rapidamente possível era a mais pura abnegação: eu estava protegendo a vida da família, e não sendo gulosa, como poderia ser facilmente acusada.

Se antes eram em conserva e acompanhavam o estrogonofe, hoje os prefiro frescos, salteados ou mesmo refogado como este aqui.


Lavei uma caixa de cogumelos e os piquei em quatro. Deixei de molho no suco de um limão siciliano e um pouco de sal. Se preferires menos acidez, deixe os cogumelos inteiros nessa marinada para que eles não a absorvam demais.

Numa panela wok, esquentei um fio generoso de azeite de oliva, onde refoguei uma pimenta vermelha sem sementes cortada finíssima. Assim que começou a tostar, acrescentei dois talos de alho-poró cortados em anéis. Usei somente a parte branca, desprezando a verde.

Larguei um pouco de sal e coloquei os cogumelos, que refogaram até amaciar e secar o líquido liberado. Na finaleira, coloquei seis ovos de codorna fervidos por cinco minutos e descascados. Comemos com pão e queijo.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Victoria sponge à minha maneira

A receita saiu direto do livro How to be a domestic goddess da Nigella, mas eu insisto em dizer que é o bolo da rainha...

A massa veio atender meu desejo de fazer um pão-de-ló perfeito. Já havia tentado algumas receitas e posso até dizer que todas deram certo: algumas eram boas, outras realmente ótimas, mas nenhuma era exatamente o que eu esperava. Bem, tudo mudou com ele.

Na primeira vez, usamos medidas normais (uma xícara, colheres rasas etc), o bolo ficou fantástico, mas pequeno. Mais tarde lembrei que tínhamos que usar as medidas tamanho Nigella e a xícara virou uma tigelinha - Uh, lá, lá.


Na bacia da batedeira, coloquei a xicrona de manteiga amolecida (não se assuste, mas chegou perto de 200g) e bati com a mesma medida de açúcar até formar um creme claro: usei açúcar de baunilha preparado em casa e não coloquei o extrato solicitado na receita original.

Separei uma xícara (leia sempre tigelinha, ok?) e 1/3 de farinha de trigo e duas colheres de chá de fermento químico bem misturadinhos. Na massa de manteiga e açúcar, coloquei cinco ovos, um de cada vez. A cada adição, acrescentei uma colher de sopa de farinha e bati mais um tantinho a mistura. Concluído o processo, coloquei o restante da farinha, duas colheres de sopa de maizena e três colheres de sopa de leite, só para amaciar um pouco.

O bolo da rainha pede muitas berries que recheiam o pão-de-ló em formato de torta. Mas resolvi atender minha minha rebeldia e assei a mistura por cerca de 30 minutos numa forma de anel redonda, muito bem untada e enfarinhada. Para enfeitar o miolo, bati uma xícara de creme de leite fresco com três colheres rasas de açúcar de confeiteiro até o ponto de chantilly. Misturei com amoras frescas e servi geladinho.

No dia seguinte fica ainda melhor.

Em tempo: para ter sempre açúcar de baunilha em casa, coloque uma ou duas favas (podem ser encontradas em delicatesses) num pote bem fechado com um quilo de açúcar e deixe alguns dias para aromatizar. Vá repondo o açúcar na medida em que você o utiliza.